domingo, janeiro 30, 2005

Artigo no Jornal: "Judeus forçados a deixar religião vão reconverter-se"

identidade religiosa. Dezenas de pessoas participaram
no seminário realizado na Sinagoga de Lisboa


Num seminário que terminou ontem em Lisboa, os criptojudeus discutiram o futuro.

O rito foi-lhes perturbado e essa injustiça histórica deve ser corrigida. A comunidade portuguesa de criptojudeus ("filhos dos forçados a abandonarem a religião") tem que recuperar a sua ligação a Israel com uma "conversão formal ao judaísmo". Num seminário realizado este fim de semana na Sinagoga de Lisboa, o presidente da Shavei Israel, Michael Freund, expressou o desejo da organização judaica responsável pelo encontro "Restaurar esta comunidade, que é imensa em Portugal."

O fenómeno dos Bnei Anussim (designação israelita para criptojudeus) explica-se, segundo Michael Freund, de forma muito simples "Todos sabemos o que foi feito contra os judeus em Portugal no período da Inquisição". Para o presidente da organização, "agora que o País é livre e vive em democracia, faz sentido que as pessoas declarem a sua identidade religiosa e regressem ao judaísmo".

No entanto, regressar não pode ser um caminho "percorrido de um dia para o outro", considera Michael Freund, uma vez que "cada um destes indivíduos tem diferentes necessidades e desejos". Muitos querem explorar intelectualmente a história do judaísmo, outros procuram fazê-lo religiosamente, convertendo-se mesmo.

"Recuperar o sonho" é, então, o objectivo maior da Shavei Israel, que entende poder "ajudar os filhos dos forçados a voltar espiritual e intelectualmente ao judaísmo". Porque, apesar de terem passado muitos anos, "as pessoas mantiveram-se conscientes do seu passado e ligadas a Israel e aos judeus, que têm uma responsabilidade para com os Bnei Anussim".

Discutir o futuro dos descendentes dos "falsos cristãos" é, deste modo, uma necessidade clara para a Shavei Israel e para as comunidades israelitas em Portugal. A realização de outro seminário em Abril, no Porto, marcará definitivamente, para Michael Freund, o "sucesso do projecto da organização no País".

Para o vice-presidente da Hehaver (Sinagoga Ohel Yacov) - também responsável pela organização do seminário -, Danilo Elias Souza, promover a constante ligação entre os grupos e as comunidades judaicas em Portugal é um passo determinante na conquista de um espaço para os "filhos dos forçados". O processo que "transformou a face social do País e promoveu a existência de cristãos de fachada" terminou com o fim da Inquisição e "hoje é urgente restaurar esta comunidade", acrescenta.

Remetidos ao segredo, "os judeus que foram impedidos de viver a sua religião experimentaram uma discriminação inaceitável", considera Danilo Elias Souza. Isto porque "sabiam quem eram mas não podiam deixar que os outros soubessem". Assim, "de dia eram uma coisa e de noite outra".

Não se sabe ao certo quantos criptojudeus existem actualmente em Portugal. E "neste País muita gente se esquece que as suas raízes são judaicas", acusa um membro da comunidade Hehaver. Por isso, "seminários que reunam pessoas que conhecem a história dos Bnei Anussim são desejáveis e muito interessantes para estas comunidades", diz.

No seminário assinalaram-se também os 60 anos da libertação do campo de concentração de Aushwitz. "Uma data que não podia ser esquecida, pelo que representa para a comunidade e para o mundo", explica Michael Freund.

A herança cultural do capitão Barros Basto, que foi "injustamente destituído das suas patentes pelas autoridades militares portuguesas há 70 anos por iniciar o movimento que hoje se celebra" recebeu também grande atenção por parte das dezenas de Bnei Anussim que participaram no encontro.


by ângela marques in Diário de Notícias (30/01/2005)

quinta-feira, janeiro 27, 2005

Programa do Shabbaton

O programa do Shabbaton, que irá começar amanhã, dia 28 de Janeiro de 2005, será o seguinte:



domingo, janeiro 16, 2005

Shabbaton em Lisboa [28 e 29 de Janeiro 2005]

Michael Freund com o Grão-Rabino Shlomo Amar


Telavive, 16 Janeiro (Lusa) - Dezenas de cripto-judeus portugueses vão participar, em Lisboa, na próxima semana, num seminário organizado pela organização judaica "Shavei Israel" - anunciou hoje a estação de rádio Aruts-7 (Canal Sete), de orientação ortodoxa.

"Shavei Israel" é uma organização religiosa judaica, sediada em Israel, que tem por missão facilitar o regresso ao judaismo institucional de descendentes de judeus, cujos antepassados foram forçados, por circunstâncias várias a abandonar a religião ancestral.

Normalmente, essas pessoas encontram dificuldades em serem admitidas no seio de comunidades judaicas organizadas, que tradicionalmente procuram evitar o proselitismo.

No caso de Portugal, trata-se essencialmente de descendentes dos judeus forçados por D. Manuel I, em 1497, a converter-se ao catolicismo, para evitar a consumação do decreto de expulsão, a que se havia comprometido, como condição para o casamento com a filha dos Reis Católicos de Espanha, Fernando e Isabel.

Os dirigentes de "Shavei Israel" chamam-nos "Bnei Anussim" ("Filhos - ou Descendentes - dos Forçados" na língua hebraica) preferivelmente ao termo usual - "marranos" - que além da sua origem pejorativa, é atribuída pelos historiadores apenas àqueles que conservaram sempre a religião judaica em segredo, ou "cripto-judeus".

Segundo declarou o director de "Shavei Israel" àquela estação de rádio: "Está a registar-se um verdadeiro despertar dos "Bnei Anussim" de Portugal que se mantiveram apegados à sua identidade judaica, não obstante séculos de medo e de perseguições." "Não são culpados de seus antepassados terem sido arrancados à força do nosso seio, e muitos deles estão buscando um caminho para regressarem à herança religiosa e intelectual, que tão cruelmente lhes foi roubada. "Segundo foi noticiado na altura, quando das celebrações do centenárioda sinagoga de Lisboa, a que assistiu o grão-rabino sefardita de Israel, Shelomó Amar, este foi procurado por "Bnei Anussim" de Lisboa e do Porto, que pediram a sua ajuda para regressarem ao judaísmo.

O reverendo Amar prometeu, na altura, procurar uma solução para os desejos dessas pessoas, compatível com as leis da "Halakhá" (canónicos judaicos).

O director de "Shavei Israel", Michael Freund, e o reverendo Eliyahu Birnabaum, do Rabinato de Israel, também estiveram presentes.

Segundo a notícia de "Aruts 7" os participantes inscritos sifram-se em algumas dezenas.
Os docentes serão rabinos e professores universitários de Israel e de Portugal. A Agência Lusa tem conhecimento de que muitas centenas de descendentes de portugueses, no Brasil, nos Estados Unidos, Canadá, África do Sul e outros países, criaram um fórum na Internet, a que chamaram "Saudades", para se entre ajudarem na pesquisa das suas raízes judaicas.

sexta-feira, janeiro 14, 2005

Festa de Tu Bishvat


Tu BiShvat marca o ano novo das árvores e também o início da Primavera em Israel, quando as árvores começam a brotar e florescer.

Como se apercebe a partir do nome, Tu BiShvat cai no dia 15 do mês de Shvat ("Tu" é formado pelas letras tet (9) e vav (6), que possuem o valor numérico de 15). 15 de Shvat cai neste ano no dia 25 de Janeiro.

Tu BiShvat é um dia festivo, porque a Torah louva a Terra de Israel com referência às frutas das suas árvores, bem como às colheitas do seu solo:
"Uma terra de trigo e cevada e uvas e árvores de figo e romãs; uma terra de oliveiras e mel (de tâmaras)" (Devarim 8:8). E também: “... e deverão comer e se satisfazer e abençoar ao Todo-Poderoso, seu D’us, pela boa terra que Ele lhes deu” (Devarim 8:10).
O Povo Judeu alegra-se com as frutas, com a Terra e com D'us que nos deu vida.

O dia de Tu Bishvat é assim celebrado comendo as diversas espécies de frutos com as quais a Terra de Israel foi abençoada: trigo, cevada, uvas, figos, romãs, azeitonas e tâmaras. Também é celebrada com o plantio de árvores.


O homem é comparado a uma árvore. No livro Pirkei Avot (Ética de Nossos Antepassados) está escrito o seguinte:

“Uma pessoa cuja sabedoria excede seus bons atos é comparada a uma árvore cujos galhos são numerosos, porém com poucas raízes.Um vento forte bate e acaba arrancando a árvore do seu lugar. Entretanto, uma pessoa cujos bons actos excedem a sua sabedoria é comparada a uma árvore com poucos galhos, mas cujas raízes são numerosas. Mesmo se todos os ventos do mundo a açoitarem, eles não conseguirão movê-la do seu lugar" (Pirkei Avot, capítulo 3, mishná 22).


Da mesma maneira que uma árvore necessita de solo, água, ar e luz solar, assim as pessoas precisam estar espiritualmente enraizadas e conectadas a uma fonte de nutrição. Água para as árvores, sabedoria da Torah para nós.

domingo, janeiro 09, 2005

Ha-Lapid: MARANUSSIM

A publicação HA-LAPID no seu número 1, tem o seguinte artigo que transcrevemos na integra:

MARANUSSIM

(cripto-judeus)

Quando no seculo XV, governando em Castela Fernando e Isabel, os reis catolicos, se fizeram violentissimas perseguições e massacres de israelitas, alguns desses infelizes buscaram a salvação da sua vida e a dos seus entes queridos, aceitando o batismo cristão.

Cada individuo destes (que aparentemente se apresentavam como nazarenos, mas que no seu coração continuavam a guardar a fé de seus antepassados) era designado pelo nome de Maranus; palavras esta composta do adverbio hebraico Mar que significa amargamente, tristemente, e de participio passado do verdo anas (pronuncia-se anáce) que significa constrangido, forçado: querendo pois a designação Maranus indicar que esse individuo fôra violentamente forçado a mudar de religião.

Ouvindo o termo maranus, os não-judeus escreveram maranos, cujo som é egual ao da palavra hebraica, e tomaram-na como um plural.

A forma maranos encontra-se no livro de actas das vereações da Camara do Porto, sessões do ano de 1485. Nessa epoca e nessas actas quando se queria o som de dois rr, escrevia-se sempre essas duas letras, mesmo no principio das palavras: ex. rrecebudos, etc.

Ainda hoje os israelitas do norte de Africa designam pelo nome de anussim (plural de anuss) os cripto-judeus, que na tecnologia inquisitorial são chamados cristão novos.

E' no periodo da dominação do Santo Oficio em Portugal e Espanha, que aparece o termo marranos, contrafacção de maranus, com o fim depreciativo, para indicar as pessoas de sangue infecto das más septas, isto é, das que são oriundas de familias cujos antepassados não seguiam o cristianismo.

Porto - Nissan de 5687 (Abril de 1927)