sexta-feira, dezembro 31, 2004

Os Judeus e as divisões geo-culturais (II)

Ora, no artigo anterior (imediatamente por baixo deste), pudemos verificar que existem Judeus sefaraditas e Judeus asquenazitas.

Mas não são somente estes os grupos existentes, como muitas pessoas pensam. Existem bastantes mais. Iremos de seguida apresentar mais alguns grupos. Os restantes seguirão num futuro artigo, de modo a não tornar a leitura pesada.


Judeus Italquitas ou Italianos:
Não devem ser confundidos com os Judeus portugueses (sefaraditas) que, no séc. XVI, se instalaram em algumas cidades do norte da Itália como Ferrara, Ancona e outras, nem com os Judeus da Europa Central (asquenazitas) que, em épocas diversas, também se instalaram pelo centro-norte da Península, italianizando-se com os passar dos séculos.
Entende-se por Italquitas aqueles outros Judeus italianos, cujo exemplo mais representativo é a comunidade de Roma, cujas origens remontam há mais de 2000 anos, desde os tempos do Império, antes ainda da destruição de Jerusalém, pois já na Época de Pompeu são registrados Judeus em Roma. É, portanto, a mais antiga comunidade judaica europeia, uma das mais antigas da diáspora.
Houve uma época em que se chegou a usar um dialecto italiano próprio – o ítalo-judaico.


Judeus da Criméia ou Crimchacs:
Não devem ser confundidos com os Caraítas da Criméia. Seu número hoje é extremamente reduzido após o Holocausto.


Judeus Orientais ou Levantinos:
São ditos em hebraico "Mizrachi", em plural plural "Mizrachim". Não devem ser confundidos com os sefaraditas, embora ambos tenham vivido durante séculos em ambientes árabes.
Os Judeus Orientais ( Mizrachi = Oriente) são aqueles Judeus do Iraque, da Síria, do Líbano, do Egipto, etc., que nunca tiveram vivência com a Espanha. Só falam o árabe e possuem nomes árabes. Já viviam no Oriente desde a Antiguidade, muito antes que aí chegassem os sefaraditas emigrados. Em certas áreas os Judeus Orientais assimilaram os Sefaraditas, noutras ocorreu o contrário. A confusão entre eles decorre do facto de ambos viverem na bacia do Mediterrâneo.


Judeus Mustarabes:
Um pequeno grupo de Judeus que nunca saiu de Israel durante todo o período da diáspora. Viviam principalmente na aldeia de Pequim na Galileia Superior, entre árabes.


Judeus Teimanitas:
São chamados em hebraico "Teimanim" (Teiman = Iémen). As suas tradições colocam-nos no Iémen desde os tempos de Salomão, quando para lá teria ido um grupo de Judeus acompanhado a Rainha de Sabá. Assemelham-se linguisticamente aos Judeus Orientais (falam árabe), porém a sua pele é morena escura, quase amulatada, e possuem uma riqueza cultural (folclore) muito típica.


Judeus Beta-Israel (Falaxim):
O termo “Falaxa” com que os etíopes os denominam, é pejorativo, pois significa "estrangeiro".
O seu centro localiza-se no norte da Etiópia e as suas tradições remontam também ao período do rei Salomão, relacionando-se com o mesmo grupo de Judeus assessores da rainha de Sabá (que teria governado em ambas as margens do Estreito de Babel –Mandeb, no Iémen e na Etiópia). São totalmente negros.
É sabido que os etíopes, antes de serem cristianizados, praticavam a religião de Moisés (Actos 8:27,28), pois a visita da rainha de Sabá a Salomão certamente resultara na conversão dos etíopes ao Judaísmo, ou então o mordomo de que fala o Livro de Actos seria um descendente daqueles Judeus da tradição Beta-Israel que teriam acompanhado a rainha de Sabá. Por tudo isto, os Beta-Israel seriam os descendentes daqueles etíopes-judeus.


Judeus de Coxim:
Localizam-se no sul da Índia. São totalmente negros como os demais indianos do sul. Remontam as suas origens a uma das 10 tribos de Israel desaparecidas no exílio assírio, embora isto não possa ser históricamente comprovado. Poder-se-á afirmar que os Judeus de Coxim sejam resultantes da conversão de escravos indianos por seus senhores Judeus (como determina a Torah). Nas localidades onde há Bnei-Isarel, Judeus de Coxim e mesmo outros chegados mais recentemente, os de Coxim mantêm as suas sinagogas próprias e estão submetidos às mesmas separações (discriminações) do sistema indiano de castas, embora isso não os torne, de maneira nenhuma, menos Judeus que os Judeus brancos.


Judeus Bnei-Israel:
São de Bombaim, na Índia Ocidental. Mais claros que os Judeus de Coxim, são todavia idênticos aos demais indianos da sua região, seja no tipo físico, seja na língua que falam, diferenciando-se deles apenas pela guarda do Shabat.
Os Bnei-Israel (filhos de Israel) remontam as suas origens à época de Antíoco IV, cujas perseguições os teriam feito emigrar para a Índia. Justificam essa tradição pelo facto de não conhecerem a Festa de Hanucah e outros eventos posteriores.

1 Comments:

At 4/12/2008 8:18 da tarde, Blogger Robson Ben-Hur said...

Não tenho palavras para exprimir minha gratidão quanto ao material que eu encontrei sobre os judeus etíopes, ou melhor, os falashas. Estou cursando pós-graduação em Educação das Relações Étnicos-Raciais e Multiculturalismo, e tive que fazer um artigo sobre estes judeus, não encontrei nenhum material na Universidade, então tive que pesquisar na internet,especialmente nas páginas do Judaísmo. Foi maravilhoso, pois tive que selecionar o material de tanto assunto que se aborda sobre este tema. Fico grato pelo mundo judaico na internet. Abraços!

 

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